Realidade não conjuga <br> com discurso oficial

Di­ri­gentes as­so­ci­a­tivos e sin­di­cais, in­ves­ti­ga­dores e eleitos au­tár­quicos, tra­ba­lha­dores e micro, pe­quenos e médio em­pre­sá­rios li­gados à eco­nomia do mar en­ri­que­ceram a au­dição pú­blica pro­mo­vida pelo PCP. Re­a­li­zando-se em Pe­niche, era in­con­tor­nável que um dos pratos fortes das in­ter­ven­ções fosse a re­cente proi­bição da pesca da sar­dinha, sobre a qual os pes­ca­dores não foram ou­vidos, de­nun­ciou Alísio Mendes, do Sin­di­cato da Pesca do Centro, e que, para mais, le­vanta sé­rias dú­vidas do ponto de vista ci­en­tí­fico, re­alçou, por seu lado, o pre­si­dente da Junta de Fre­guesia de Pe­niche, Hen­rique An­tunes.

«Não há ac­ti­vi­dade que sub­sista seis meses pa­rada», alertou ainda Alísio Mendes, par­ti­lhando a pre­o­cu­pação de ou­tros in­ter­ve­ni­entes. Caso de José Amador, da Fe­de­ração das Pescas, que va­ti­cinou sé­rias di­fi­cul­dades para a fi­leira eco­nó­mica do con­celho, em grande me­dida de­pen­dente da cap­tura de cerco e que fruto das quotas ne­go­ci­adas pelo Go­verno com Es­panha já se sabia que en­fren­taria, em 2015, ca­rência de ma­téria-prima.

Pescar ca­rapau ou ca­vala, como su­geriu o se­cre­tário de Es­tado das Pescas, não é viável, disse também José Amador, quase an­te­ci­pando a questão lan­çada por Ma­riana Rocha, do Sin­di­cato da Agri­cul­tura e das In­dús­trias de Ali­men­tação, Be­bidas e Ta­bacos. «Vol­tarmo-nos para o mar para apa­nhar sol e passar fome?», la­mentou a di­ri­gente sin­dical de­pois de ad­vertir para a des­truição de postos de tra­balho e em­presas que a me­dida está já a im­plicar na in­dús­tria con­ser­veira.

Sobre as con­sequên­cias eco­nó­micas e so­ciais da ac­tual po­lí­tica de pescas falou igual­mente o pre­si­dente da Câ­mara Mu­ni­cipal de Pe­niche, que de­fendeu com­pen­sa­ções e uma abor­dagem in­te­grada para o sector, in­cluindo para ac­ti­vi­dades emer­gentes li­gadas ao re­creio e lazer.

An­tónio José Cor­reia focou também a pre­ca­ri­e­dade da se­gu­rança a bordo e dos vín­culos, e os baixos sa­lá­rios. Con­di­ções de tra­balho dos pes­ca­dores que, ali­adas à des­truição do apa­relho pro­du­tivo e dos portos de tra­balho ini­ciada em 1986, com a adesão de Por­tugal à então CEE, fazem parte do «pe­sa­delo» em que se trans­for­maram as pro­messas de um «Por­tugal de sol e mar, de ser­viços», lem­brou João Del­gado, pes­cador e membro da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Leiria do PCP.

A re­a­li­dade não con­juga, por­tanto, com os dis­cursos po­lí­ticos, con­cluiu Jorge Abrantes, da As­so­ci­ação para o De­sen­vol­vi­mento de Pe­niche, para quem tem de pre­va­lecer, na atri­buição de fundos e na de­fi­nição de pri­o­ri­dades es­tra­té­gicas, o in­te­resse e o pro­gresso das co­mu­ni­dades lo­cais.

Não é no en­tanto isso que su­cede, em­bora haja quem teime em remar contra a maré, caso do dri­gente as­so­ci­a­tivo Fer­nando Gon­çalves, que pese a le­gis­lação ana­cró­nica, os gar­rotes es­tru­tu­rais ao cres­ci­mento e os ele­vados custos de con­texto, acre­dita que a aqui­cul­tura pode de­sem­pe­nhar um papel re­le­vante no abas­te­ci­mento de pes­cado e no de­sen­vol­vi­mento do País.



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